Ponto de Vista - Aproximar o country brasileiro do Rock ou do Sertanejo?
July 5, 2016
Dos dois, cara-pálida! Temos nas mãos, talvez, um dos únicos estilos que podem ficar nos dois mundos, sem ser discriminado (palavra forte essa, né?).
EUA e Brasil, dentro da cultura rural, sempre tiveram grandes semelhanças, principalmente no rodeio, que foi o maior responsável por uma melhor aceitação da música country no Brasil, justamente por esse traço cultural. Rodeios no Brasil sempre foram populares, pelo menos desde a década de 1960, a absorção de elementos do rodeio dos EUA foi natural, nas regras, no jeito de se vestir, na música. Em algum momento, ha uns 30, 35 anos atrás, alguém se propôs a tocar moda e sertanejo depois das montarias e por volta de 1987-88 algumas bandas começam a introduzir musicas country em seu repertorio, o que por muito tempo foi importante para a disseminação do "estilo". Desde então, a associação de que country e sertanejo eram uma coisa só se firmou como um único conceito.

Imagem: John Anderson
O que houve de positivo nisso tudo? A cultura da bota e chapéu cresceu e conquistou fãs, cantores sertanejos usaram a “roupagem” do country em arranjos de suas músicas, passaram a usar o pedal steel, o violino, o banjo etc. Tudo isso sem contar os “picos” de reconhecimento do segmento que aconteceram em 1994 e em 2005.
Ainda assim, dentro de toda uma nova linguagem inserida no sertanejo ele soava, olha só, como SERTANEJO! Com algumas raras exceções, por muitos anos e por falta de uma certa “intimidade” com as origens MUSICAIS do country, soamos caricatos.
O que permite essas músicas terem caminhado juntas tantos anos é sua formação em culturas semelhantes de países distintos! Só isso! Sertanejo e country musicalmente não são uma coisa só, nunca foram, por mais que alguém possa defender nunca serão. Volto a falar disso em seguida. O crescimento do country nos centros urbanos do Brasil é fácil de ser entendido. Rock e country MUSICALMENTE são praticamente uma coisa só, tiveram as mesmas origens, influências, as boas línguas dizem até que um é filho do outro. Desde o final da década de 70, as bandas brasileiras com origem no rock, e de rock, fazem música country; é um caminho natural, como aquele lateral-esquerdo bom de bola que quando passa dos trinta anos vai jogar no meio campo, só preparando as jogadas, mais tranquilo, mais técnico, com aquele drible mais curto e preciso.
Então, vendo isso tudo, constatamos que no mercado brasileiro temos os dois ramos pra explorar, a cultura tradicional do sertanejo e a cultura musical do rock, mesmo que por vezes até achemos que estas desapareceram.
Esse é outro caminho que vislumbro e tem sido feito por muitas bandas, trabalhos autorais com a preocupação de ser apenas country music, letras mais ricas, arranjos que em nada devem a Nashville, canções de amor, de formação de opinião, outlaws e também (porque tem que ter) de alegria e diversão. Deixamos de ser caricatos, nossos músicos evoluíram, buscaram aprimorar suas técnicas, nossos cantores deixaram de tentar imitar aquele som “anasalado” característico dos cantores de lá, perdemos o sotaque sertanejo, aprendemos a cantar country music, em inglês e português.
Depois de muitos anos, por esses dois segmentos tão distintos, temos um segmento único, existe a possibilidade do country ser enxergado como verdadeiramente é, existe a possibilidade de termos uma cena que pode ser chamada de cena country.
Quando for convidar alguém pra ir pra balada country explique pra ela que não precisa estar “traiada”, que bota e chapéu não são abadás, não é obrigado a usar, não é micareta country, usa quem quer, quem gosta, quem se sente bem usando. Quebre esse “mito” de que música country no Brasil é música de peão, mostre que a sonoridade do country é rica, é única.
Temos dois mundos pra explorar, que todos possam entender que não somos nem rock, nem do sertanejo, somos country e somos os dois, que a riqueza do estilo permite algo bom, o convívio das diferenças pelas semelhanças.